Surto Nacional

Surto Nacional


Minha voz se apaga entre as paredes do meu quarto
E reaparece enquanto um sussurro na tela do meu celular
Fico levando meu corpo jovem e cansado para além dos seus limites
Ando mentindo sobre fatos

Mas um fato
que nos segue e persegue não é mentira
Os monstros crias do Fascismo brilham e resplandecem nos terrenos brasileiros
E o nosso Ensaio Democrático
com suas vestes tão simples
e sua pele tão frágil
está numa forca

E, como se não bastasse
As atrocidades dos Fascistas sem armário
Ainda é preciso escutar as atrocidades dos neoliberais…
Em nenhum momento eles reconhecem que o "deus Mercado"
e a sua mão invisível do salvamento é uma farsa
Não reconhecem que as suas práticas privam, limitam, e às vezes matam
No entanto
Eles exigem constantemente
Um reconhecimento dos socialistas/comunistas
Dos erros de figuras
Que diziam pertencer ao nosso lado
E as práticas, bem
as práticas foram pra um lado bem avesso

Lênin chora em sua tumba
Deve ter chorado ao ver tudo aquilo em que acreditava ser distorcido
Ser assassinado

Eu também choro
Choro nas paredes do meu quarto
Choro pela agonia do nosso Ensaio Democrático
Choro também pela morte da minha voz
Minha voz que é morta dentro da minha… Casa?

Como pode ser minha casa se minha voz é tão desrespeitada?
Como pode ser minha casa se preciso gritar e me alterar pra minimamente ser ouvido?
Por isso amo o meu quarto
É como uma terra independente
É como um templo
Onde me sinto

Pergunto-me antes de dormir
Sobre as práticas fascistas desse país chamado Brasil
Fascista com os povos indígenas
Fascista com as pessoas nas periferias
Fascista com os quilombolas
É até engraçado todo esse alvoroço
Porque agora que o Fascismo ameaça a nação como um todo
E seu beijo da morte toca a classe média
Agora fala-se do Fascismo com veemência
E veio um surto coletivo
De declarações antifascistas…

Óbvio que sei da ameaça real
que o desgoverno Bolsonaro é
O seu anseio pelo assalto da nação
O seu culto a torturadores
A formação de milícias
E nesse momento
Tão delicado
Que o fino tecido
do nosso Ensaio Democrático
fica tão vulnerável
É extremamente importante
Se declarar
E protestar
Contra tudo isso que está acontecendo

Mas,
Mas,
Não se preste ao papel ridículo
Que uma certa "jornalista"
De um jornal que aparenta ser decente
Cujo nome não vou citar
Que teve seu líder perseguido
E acha que vai ganhar 
perseguindo pessoas 
que realmente são de ESQUERDA
que ridículo
Não se preste a esse papel

Sei que minha voz
Ainda não tem alcance mundial
No entanto
Nas ruas em que ela ecoa
Digo-lhe
Se declare antifascista
E seja antifascista
E seja contra práticas fascistas
E mesmo quando 
Tudo isso passar
Lembre que
O fato do beijo da morte
Não está nas costas da Classe Média
Ele está lá
Em algum lugar
Em que nosso Ensaio Democrático não alcança
E nós
Que temos nossos privilégios
Devemos falar
Devemos gritar
Estamos no mesmo país
No mesmo planeta
No mesmo universo



Victor dos Anjos

Instagram, Twitter e TikTok: @poesiadosanjos

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