RECOMEÇO

— Passa tudo que você tem de valor! AGORA!
          Foi surpreendido com essa frase. Não era um horário típico dessas abordagens, nem a rua em que se encontrava estava dentre as mais perigosas da cidade. Todavia, estava sendo abordado por um elemento que carregava um revólver na mão esquerda; tinha que aceitar, era um assalto.
          Pensou rapidamente, não tinha nada de valor, estava apenas caminhando. Tudo de valor material seu encontrava-se a alguns quarteirões dali. Mas, não levaria o bandido para sua residência. Então, veio-lhe a pior opção e a mais cabível ao momento, negociar com o bandido.
— Não trouxe nada de valor! Tô só caminhando! Deixei tudo em casa!
— Nada!? O bandido lançou um olhar incrédulo.
— Não! Nada! Pra ser franco, ainda fui deixado semana passada pelo meu namorado! Meu coração tá quebrado! Fui traído! Pronto, tenho meu coração quebrado! Leve-o!
          O bandido avaliou, olhou o rosto assustado do rapaz, e pensou: quais as razões que me levam a fazer isso?. Viu o estado em que o outro encontrava-se. Ainda por cima, com o coração quebrado. Traído. Não tinha mais que sua idade, por volta dos 25 anos. Não vou assaltá-lo, pensou, nem tirar sua vida, não sou um assassino.
          Dessa vez, o bandido queria fazer diferente. Pela primeira vez na vida, sentiu vontade de ser diferente. Algo naquele rapaz o havia despertado algo. Uma estranha sensação.
          O elemento colocou o revólver no chão; não com desespero, sim lentamente, em uma promessa silenciosa onde abdicava do que nunca deveria ter sido. O rapaz assistia a cena assustado. Ambos não acreditavam no que acontecia.
— Vem cá neném! Bora conversar! Vou curar as feridas do teu coração!
          O rapaz foi abraçado pelo bandido. Retribuiu o abraço. Não acreditava no que fazia. Só fazia. E amou o feito. Aquele era seu recomeço.



Victor dos Anjos


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