LEMBRO

Lembro

De andar por aquela rua escura

Lembro

De estar naquela rua deserta

Lembro

De tudo como se fosse ontem

Lembro

Desse infortúnio aos prantos

Lembro

Que apareceram uns caras

Lembro

Que eles brotaram do nada

Lembro

Dos seus olhares maldosos

Lembro

Deles querendo condenar-me

Lembro

Que fizeram tudo a sangue frio

Lembro

Muito bem de tudo que me atingiu

Lembro

Que chorei

Lembro

Que chorei

Lembro

Que me chamaram de putinha

Lembro

Que me chamaram de bichinha

Lembro

Que chorei no chão

Lembro

Que permaneci com o rosto nas mãos

Lembro

Que me culparam

E disseram que minha roupa era curtinha

Lembro

Que me condenaram

E disseram que eu era muito menininha

Lembro

Que me mandaram trajar-me melhor

Lembro

Que me mandaram ressaltar minha masculinidade

Lembro

Que eles pagaram fiança

Lembro

Que meu caso não foi tratado com relevância

Lembro

Mas ao meu redor ninguém se lembra de nada

É sério isso

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Victor dos Anjos