Dos céus e dos infernos


Eu sou um anjo. Mas estou cansado. Cansado desses papeis que tenho que desempenhar, e desse silêncio que estou abraçando. Sentado no meu quarto, mexo os dedos dos meus pés aleatoriamente. Talvez eu esteja procurando por pés próximos aos meus. Ou talvez, meus pés só precisem de um tempo. No momento, sou um anjo aborrecido.

Engraçado o fato das pessoas amarem os anjos. É engraçado pelo fato do esquecimento delas acerca da potencialidade demoníaca nos anjos. Elas só lembram dos anjos enquanto bondade, e uma bondade da qual elas possam usufruir. Entretanto, anjos também são demônios. Anjos também se cansam.

O outro lado habita em todos em seres. Para ilustrar melhor, vamos falar da história de Lúcifer e de sua expulsão dos céus pelo fato de querer ter um papel que não lhe cabia. O anjo lindo e belo, que na sua ambição ficou cego, e caiu nas profundezas na qual chamamos inferno.

Engraçado o fato das pessoas pensarem no inferno como algo ruim. Pois passamos por diversos infernos ao longo da vida. Não o vejo como algo ruim, e sim como um local de aprendizado. É onde as marcas que estão na pele da sua alma são forjadas. Momentos de transformação. Transformação...

Eu sou um anjo, um anjo cansado e aborrecido. Tem dias que sumo até de mim. E tem dias nos quais eu estou vivo. Não estou contando as verdades a quem eu deveria. Não estou confidenciando mais os meus passos, nem os meu laços. Tem dias que sou um anjo perdido, e não quero ser encontrado. E, quando me deparo com conhecidos dou um abraço, e corro, corro até os meus orgasmos. Afinal, aquelas sensações que me matam precisam ser silenciadas, nem que sejam por alguns instantes.



                                                                               Victor dos Anjos
                                              Twitter e Instagram: @poesiadosanjos

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